terça-feira, 29 de abril de 2014

O Retrato

"No Verão, à sombra das amoreiras grandes do Largo o homem plantava a árvore dos retratos. (…) Chegava numa furgoneta cansada como uma mula velha, de resfolegar asmático e cores comidas por camadas sobrepostas da poeira dos caminhos (…)"

Foi assim que o retratista, da autora Maria Conceição Ruivo, chegou ao largo e também a mais uma sessão das Cnversas Andarilhas.

Os idosos envolvidos neste projecto da Biblioteca Municipal de Beja em parceria com a Cáritas Diocesanas de Beja na sessão passada trouxeram retratos antigos para partilhar com o grupo, no qual surgiram memórias do momento do retrato.

Uma sessão apenas de retratos, de memórias de retratos, das pessoas que fomos e de quem somos.

Leia mais no nosso Diário de Bordo

quarta-feira, 23 de abril de 2014

23 de Abril - Dia Mundial do Livro

Hoje, Dia Mundial do Livro, a Biblioteca Municipal de Beja José Saramago tem para si um leque de iniciativas das quais destacamos:

Sessão pública do Clube de leitura com a participação do escritor Rui Zink

Traga um livro também e venha partilhar leituras!






sexta-feira, 18 de abril de 2014

Feliz Páscoa

A Biblioteca Andarilha deseja a todos uma ...

quarta-feira, 16 de abril de 2014

A máquina de fazer poesia


Estivemos no sábado a fazer mais umas conversas   Andarilhas , desta feita em Stª Vitória . 17 almas em volta da Poesia , do Miguel Horta e da máquina genial que  ele inventou . Tivemos casa cheia  e a presença de dois poetas o  Miguel Horta e Senhor Heitor : o primeiro trouxe um verso escrito à mão,  numa folha de linhas , o segundo a impressão do seu próximo livro : Rimas Salgadas.
 
Conversámos muito. Lemos textos. A D. Rosa trouxe a pedido,  as fotonovelas que lia em rapariga, quando servia no Porto e as escondia por cima do autoclismos  não fosse a senhora encontrá-las. Era ali , bem sentada que as lia de fugida.  Houve quem fosse ao cabeleireiro. Quem trouxesse uma amiga. A D. Felizarda  devolveu com entusiasmo o livro que levou da Nau Catrineta , mas a conversa sobre os livros que temos lidos será para o próximo dia. Hoje viemos conhecer o Miguel  e responder ao  desafio que este nos trás. Continua no nosso Diário de bordo

A propósito da história da CARTA

Temos quase dois anos que trabalho – pouco mais de uma dezena de sessões - no centro de dia de Cabeça Gorda com o grupo de idosas que ali se reúne para o chá e torradas.  Às vezes o menu altera-se e aparecem as travessas de cachola com sangue ou as fatias douradas, acompanhadas com café de cevada e chá. Outras vezes somos interrompidos pelos vendedores ambulantes que entram para perguntar se queremos queijos, linguiças, paio. Às vezes rezámos por alma de alguém.
- Vamos lá nós rezar por alma dela – lembrou-se no outro dia, uma das senhoras a propósito do desagrado como se tratam hoje as missas por alma. Rezaram todas em uníssono . Eu acompanhei em silêncio dividida e espantada: deixar-me embalar naquela reza ou documentar a forma natural como o sagrado e o profano se unem em roda daquela mesa.(...) Continua no nosso Diário de bordo

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Ervilhas para verdadeiras princesas

Hoje é dia de mais uma “ Leitura de Cueiros” desta vez em Beringel com crianças  entre os 3 e os 5 anos. Há um ano que trabalhamos com este grupo, com sessões quinzenais enquadradas no projecto Dos livros sem páginas às páginas dos livros.

Sabemos que quinzenalmente, quando se abre a porta, seremos bem recebidos e a sala enche-se de sorrisos e perguntas:
- O que trazes hoje na mala?
- Hoje trago uma surpresa!

Assim que pouso a mala no chão todos os meninos se sentam à minha frente de olhos bem abertos cheios de curiosidade e com sede de histórias. 

- Trago uma história muito antiga com um  rei. Alguém sabe o que é um rei?
- O rei tem espadas, cavaleiros e mora num castelo - diz o Rodrigo.
Depois de partilharmos os símbolos do rei, o seu poder, com quem vivia, o espaço onde morava, entramos na história “ O Reizinho das Flores”  de Hans Gartner. Apresento a  capa, leio o título e pergunto:
- Como será este Rei?
- Pequenino! - Gritaram todos!
- Será que era como os reis que vocês conhecem? Vamos ver!
Mergulhamos na história e todos aprendem uma palavra nova  "bolbo", eu explico do que se trata e a Maria fala das bolinhas do quintal e o Dinis diz que tem no quintal bolinhas na terra para crescerem flores.
Os momentos de passagem na história são marcados com o som dos trompetes   (tum, tu, tu) e todos imitam as passagens sem que tal lhes seja solicitado. Mantêm-se atentos aos pormenores do livro.  A história é muito simples e no final apresenta o casamento do rei com a princesa.
- O que é uma princesa? Quem pode ser princesa?
- Tem uma coroa, é bonita, tem vestidos assim (pelos pés). - diz a Ana.
- Uma princesa é delicada, sabe bordar, sabe comer à mesa de talheres, dorme numa cama muito grande e fofa, tem criados como o rei  e também vive num castelo.
"Uma história muito antiga é a que vos vou contar da menina que sonhava ser princesa e com um príncipe morar."  
- Era uma vez... 

Continua no nosso Diário de Bordo

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Dia Internacional do Livro Infantil

                                                                                                                      
                                                 
                                                                                                                                                                     CARTA ÀS CRIANÇAS DE TODO O MUNDO

Os leitores perguntam muitas vezes aos escritores como é que escrevem as suas histórias – de onde vêm as ideias? Da minha imaginação, responde o escritor. Ah, sim, dizem os leitores. Mas onde fica a imaginação, de que é que ela é feita, e será que todos temos uma?

Bem, diz o escritor, fica na minha cabeça, claro, e é feita de imagens e palavras e memórias e vestígios de outras histórias e palavras e fragmentos de coisas e melodias e pensamentos e rostos e monstros e formas e palavras e movimentos e palavras e ondas e arabescos e paisagens e palavras e perfumes e sentimentos e cores e ritmos e pequenos cliques e flashes e sabores e explosões de energia e enigmas e brisas e palavras. E fica tudo a girar lá dentro e a cantar e a parecer um caleidoscópio e a flutuar e a pousar e a pensar e a arranhar a cabeça.

Claro que todos temos uma imaginação: se assim não fosse, não seríamos capazes de sonhar. Contudo, nem todas as imaginações são feitas das mesmas coisas. A imaginação dos cozinheiros tem sobretudo paladares, e a dos artistas mais cores e formas. Mas a imaginação dos escritores está cheia de palavras.

E nos leitores e ouvintes das histórias, as imaginações fazem-se com palavras também. A imaginação do escritor trabalha e gira e molda ideias e sons e vozes e personagens e acontecimentos numa história, e a história é apenas feita de palavras, batalhões de rabiscos que marcham ao longo das páginas. E depois chega o leitor e os rabiscos ganham vida. Ficam na página, parecem ainda rabiscos, mas também brincam na imaginação do leitor, e o leitor começa igualmente a desenhar e a rodar as palavras de modo a que a história se crie agora na sua cabeça, tal como tinha acontecido na cabeça do escritor.

É por isso que o leitor é tão importante para a história como o escritor. Há  apenas um escritor para cada história, mas há centenas ou milhares ou mesmo milhões de leitores, na própria língua do escritor ou traduzida para muitas línguas. Sem o escritor, a história nunca teria nascido; mas sem os milhares de leitores em todo o mundo, a história não viveria todas as vidas que pode viver.

Cada leitor de uma história tem alguma coisa em comum com os outros leitores da mesma história. Separadamente, mas também em conjunto, eles recriam a história do escritor com a sua própria imaginação: um ato ao mesmo tempo privado e público, individual e coletivo, íntimo e internacional. Isto deve ser o aquilo que o ser humano faz melhor.  

Continua a ler!


Siobhán Parkinson
Autora, editora, tradutora e distinguida com o Laureate na nÓg (Children’s Laureate of Ireland).

Tradução: Maria Carlos Loureiro