sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Feliz 2011

A Biblioteca Andarilha deseja a todos os seus utilizadores um Próspero Ano Novo e... muitas leituras!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

De tanto andarilhar...

... um  Poeta em S. Matias, fomos encontrar.

Numa das muitas paragens que a Biblioteca Andarilha tem feito pelas freguesias rurais, ficámos deliciados com a presença do Sr. António Maria Ruaz, que nos aguçou a vontade de escutar o trabalho que tem vindo a realizar no âmbito da poesia popular.

 

terça-feira, 6 de julho de 2010

Andarilhando pelas freguesias rurais com...

                                         ...contos tradicionais

e actividades de expressão.

terça-feira, 29 de junho de 2010

"Uma Mala Mil Leituras"

Para além dos empréstimos de livros aos seus utilizadores nas freguesias rurais, a Biblioteca Andarilha direccionou um projecto para crianças do pré-escolar e 1º ciclo das escolas de Baleizão; S. Matias; Mombeja; Trigaches e Santa Clara de Louredo.
"Uma Mala Mil Leituras" foi inspirado no projecto "Artefactos para contar e criar histórias" de António Portillo, patente em 2009 na Biblioteca Municipal de Beja, onde se trabalha a construção de narrativa a partir de objectos, de forma a responder a uma preocupação central do processo de formação do leitor: a capacidade de compreender, ler e escrever diferentes tipos de texto.
A literacia visual; a leitura m voz alta com o livro em presença; a narração oral; os jogos de leitura e escrita "criativa" e a ilustração foram algumas das estratégias que deram forma ao projecto.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

...à conversa com a D. Maria Rosa

Chegámos à Boavista. Dona Maria Rosa aparece ao ouvir o som já antigo do amola tesouras, que em tempos já remotos calcorreava as ruas das aldeias mais isoladas, amolando tesouras de costura e prenunciando a chuva. ( foto )

Vem de sorriso aberto e com uma simplicidade e simpatia que se reflectem no rosto, na maneira de estar, na fala. Procura revistas de bordados que lhe ensinem novos “pontos e pospontos” para fazer mais um naperon, um cortinado, ou uma toalha para o enxoval dos netos. ( foto )

É quase meio-dia, o sol já vai alto e Dona Maria Rosa diz-nos que já tem o almoço feito. Ensopado de borrego e conversa puxa conversa , deslizamos na ampulheta do tempo:

- Antigamente era tudo muito diferente. Havia muita fome e miséria. Trabalhava-se de sol a sol e para comer muitas vezes só havia toucinho amarelo que só de olhar dava ânsias. Quando chegava a hora do almoço, as mulheres juntavam-se aos homens em roda de uma panela de barro, onde era cozinhado o almoço. Na maioria das vezes o que se comia era uma sopa de batata com azeite cru por cima e a “sobremesa” eram umas “azeitonas sapateiras” que nem sabor tinham. - o rosto agora ficou sombrio e as rugas oferecem-se como linhas de um texto rasgado na carne.

Sou um filho de outro tempo e escrevo estas linhas agradecendo o privilégio de poder escutar esta história de trabalho, resistência. Obrigado D. Maria Rosa.
Nelson Miguens ( estagiário de animação social-cultural )

sexta-feira, 26 de março de 2010

Pela palavra pode ganhar-se voz social

Hoje estamos em Beringel . Estacionados numa fresca sombra de um jardim, vemos surgir três pequenas figuras, com os cabelos desalinhados pelo vento, carregando às costas mochilas.

Alexandra, Maria do Carmo e Sebastião, surgem curiosos e cheios de perguntas.
- Isto é uma biblioteca?
- Podemos entrar?
- Podemos mexer nos livros?
Acolhemo-los no interior da Biblioteca Andarilha e satisfazemos a sua sede de tocar e descobrir .
São meninos de etnia cigana e tocam com a ponta dos dedos os livros de animais com texturas. Lêem com as mãos, com os olhos, com o corpo que se agita sôfrego de saber.
Ao golfinho chamam foca. Ao lagarto chamam dragão.
Se continuarem a aparecer, aprenderam outras palavras e com elas designarão outros mundos.
Perguntamos-lhe se querem ouvir uma história e logo nos dizem que sim.
Observam e escutam as palavras da Lénia com os olhos arregalados e cintilantes, um sorriso desenhado no rosto. Tem sede de atenção e de conhecimento.
Três histórias ouviram mas ouviriam mil, os seus corpos estão quietos e nos olhos o espanto mostra que viagem pelos livros, pelas palavras, pelas imagens pode ser serena .
Depois das histórias a Lénia pergunta-lhes o que querem ser quando forem crescidos.
- Eu quero tirar a carta, diz Alexandra.
- Mas ter carta não é profissão Alexandra. Diz-me lá é o que queres ser quando fores grande. Fica em silêncio a pensar nessa coisa profissão que talvez não saiba o que significa. Maria do Carmo, a mais velha dos três, responde:
- Gostava de ser polícia ou advogada, para poder prender ou tirar da prisão.
Marcados pela pobreza, pela desconfiança, pela exclusão vivem em sonhos o poder ter autoridade.
Ali, na biblioteca largo, todos os sonhos são possíveis.
Ali, pela palavra pode ganhar-se voz  social.
Nelson Migueis - Estagiário de Animação Sócio Cultural



Porque será ?

O dia estava carregado e anunciava trovoada. De quando em quando uma gota de chuva grossa molhava-nos o rosto.


A Biblioteca Andarilha chegava a Trindade e pouco e pouco as crianças e os adultos aproximavam-se curiosos. A memória os mais velhos guardam ainda a lembrança da carrinha da Gulbenkian e a longínqua experiência com a palavra escrita.

Crianças, moças, mulheres e também homens desceram ao largo, para escutar, ler e bailar. A Helena  apressa-se a convidar para entrar, para usar e aos poucos os livros, os jornais e as revistas saltam da carrinha e espalham-se pelas mantas pelos bancos . (foto)

Ainda não sabemos o que gostam de ler . Percebemos que os jornais estão todos a rodar e que em torno de uma mesa de revistas as senhoras comparam rendas e modelos. (foto)

Percebemos também que querem conhecer-nos e que anseiam pelos contos que o Jorge Serafim contará nas escadarias da aldeia na noite dos Contos do Suão iniciativa que será feita simultaneamente em todas as aldeias do concelho de Beja.

Daquei a uns dias mais de 50 narradores virão a Beja oferecer a todas as aldeias uma sessão de contos. São danados estes narradores qualquer toque a rebate e já se organizam para ajudar.

Já chove e temos de nos abrigar num cantinho. Mantas no chão e ali sem adereços, apenas com livros, gestos e voz,  tentamos acordar nas crianças, mas também nos adultos o gosto pela palavra. ( foto )

Porque será que quando mais pequena e afastada de Beja é a aldeia mais as pessoas nos procuram?

Contos aquecem as noites de Salvada


Está um frio de Inverno e ainda assim, no dia dos Reis, o Pólo da Salvada resolveu celebrar com chá, bolos e contos os presentes ao menino. A Ausenda Féria é a mestre de sala e a junta encheu-se  de idosos, adultos e crianças: a tia Anica, a D. Custódia, A D. Catarina , a D. Inês e os pequenitos Diogo, Rita , Luís.
Contamos contos e convidámos quem está na assistência para contar. Risos. Espanto. Os meninos pedem à Ausenda o da ovelha e o da carochinha e…chegam os homens do grupo coral para cantar os reis. São poucos, mas na sala todos ajudam. Ali na segunda fila uma voz melodiosa, antiga, destaca-se. Acompanha as vozes masculinas, mas ainda que discreta, destaca-se pela afinação. Chama-se a senhora Mariana Pacheco, mais conhecida por Mariana Bicho. Segura-me nas mãos e, entre risos e cumplicidades, conta-me de fugida duas belíssimas partes. Suspeito que esta mulher ainda vai dar que falar.


Passou um mês e desta vez, num sábado à tarde, mais um encontro na Salvada. O trabalho da Elsa vai caminhando e conquistando público para o Pólo. A sala voltou a encher e entre contos e cantos convencemos a D. Mariana Bicho a contar. Tapa na boca um sorriso envergonhado e conta. Tem ritmo, humor desenvoltura. Quando a sessão acaba e me sento ao pé dela para anotar dois ou três detalhes de rima. A conversa solta-se e vem o romanceiro cantado a preceito, os olhos molhados e o espanto pelo interesse de quem escuta. Sabe tanto esta mulher que me sinto de novo na idade dos porquês, embalada pela  sua voz. ( Taquelim )